A defesa pessoal é cada vez mais buscada no Brasil, por homens e mulheres que buscam alternativas para se preparar para o pior.
Isso, é claro, não é à toa.
Mesmo com significativa queda nos últimos anos, nosso país enfrenta um dos índices de homicídios por cem mil habitantes mais elevados do mundo.
Conforme dados de 2021 do Anuário Brasileiro da Segurança Pública, atualmente o número de mortes violentas intencionais (MVI) está em 22,3 por 100.000 habitantes.
Assim, não é de se espantar que cada vez mais civis busquem alternativas para reforçar sua própria segurança, como a defesa pessoal.
Entretanto, o caminho para ser efetivo na sua defesa pessoal, ou mesmo na da sua família, começa muito antes da posse de arma, por exemplo.
Por isso, hoje elencamos 7 dicas que podem salvar a sua vida, e certamente o farão mais preparado para o pior.
Afinal, quando a sua vida está em xeque, a primeira arma é a informação.
Atenção: dica bônus ao final do texto.
Prossiga!
A Defesa Pessoal começa na mentalidade
A Defesa Pessoal vai muito além de golpes efetivos, letais, pensados e internalizados na memória do lutador.
Embora conhecê-los e treiná-los seja imprescindível, a vitória em uma situação de vida ou morte dependerá de muitos outros fatores anteriores.
Por exemplo: se você for capaz de antever um episódio de violência e desescalá-lo, sequer será necessário entrar em um conflito.
Esse, como veremos, é o melhor caminho para trilhar, quando possível.
Pois uma vez que a violência se inicia, seu fim sempre é imprevisível, frequentemente causando danos irreparáveis.
Por isso, a primeira arma na defesa pessoal, é a informação.
Vale lembrar que os conceitos que serão apresentados podem ser utilizados tanto na defesa pessoal, quanto na defesa dos seus próximos.
Por fim, conheça abaixo as 7 dicas com o poder de salvar a sua vida quando o seu bem maior estiver em xeque.
Entenda a violência
A violência é frequentemente tratada como algo pertencente ou aos criminosos sem escrúpulos, ou ao Estado, que o exerce pelo poder de polícia.
Assim, em geral, é comum que essa palavra, por si só, traga consigo sentidos negativos, e causem distanciamento, e até desprezo.
‘’Eu não sou violento, isso é coisa de bandido’’.
Pensamentos como esse são tão comuns quanto perigosos, e põem seus propagadores em um risco potencial de serem vítimas.
Desse modo, é fundamental entender o que é a violência.
Nesse sentido, vale citar o vetarano da Inteligência da Marinha e especialista em Defesa Pessoal, Tim Larkin.
Em sua obra ‘’When violence is the answer’’, Larkin explica exatamente o que é a violência: uma ferramenta.
E como qualquer ferramenta, o resultado negativo (agredir) ou positivo (defender), dependerá exclusivamente da intenção de quem a manipula.
Portanto, uma faca de cozinha pode tanto servir a propósitos culinários, quanto homicidas.
Além disso, o especialista explica que é preciso entender a violência como o último recurso.
Entretanto, quando ela é a resposta, ela é a única resposta.
Nesse sentido, Larkin classifica a violência em dois principais tipos, cada qual exigindo uma diferente resposta: violência social e asocial.
Violência social
A violência social é aquela envolvida em contextos de hierarquia e disputas, cuja finalidade é demonstrar algum tipo de dominância sobre alguém.
Exemplos claros disso são, por exemplo:
- Brigas de bar;
- Brigas entre adolescentes em colégios;
- Brigas de trânsito, entre outros.
Apesar de desconfortável, esse tipo de violência é geralmente desescalado com o uso de habilidades sociais, como conversa e simplesmente evasão (sair do local).
Ou seja, há espaço para o diálogo, para a comunicação.
Assim, seus resultados, quando graves, geralmente são secundários.
Afinal, a intenção primordial não é eliminar, mas sim dominar.
Isso, geralmente, é visível na própria linguagem não verbal do agressor (queixo elevado, feição facial rígida, peito estufado e curta distância do alvo).
Entretanto, é possível que uma violência social possa escalar para a asocial, como ilustrado na história de José, que infelizmente, é a história real de muitos.
Nesses casos, a violência é a única resposta.
Violência asocial
É principalmente para a violência asocial que devemos nos preparar.
Isso porque ela é letal, destruidora e não há comunicação possível com quem a utiliza.
São alguns exemplos de violência asocial:
- Atirador ativo ou mass shooting;
- Psicopatas assassinos;
- Ataques terroristas;
- Serial killers,
- Violência aleatória, entre outros.
Portanto, quando confrontado com a violência asocial, não há comunicação, regras ou empatia: a única resposta é a violência.
Nesse cenário, a intenção do agressor é destruir você, custe o que custar.
Esse tipo de agressor, não irá gritar, elevar o queixo ou invadir seu espaço pessoal.
Na verdade, ele não falará nada.
Essa é a principal diferença entre violência social e asocial: nesta última, o agressor tão somente agirá com o máximo de violência para exterminar sua vítima.
Por isso, a única resposta é agir primeiro, com violência maior à intencionada pelo agressor, e só parar em duas hipóteses: neutralização completa, ou incapacitação física.
Mentalize cenários
Já passa das 23 horas da noite. José trabalhou muito hoje, mas não como todos os dias.
Ele precisa fazer suas horas extras para segurar as pontas no lar.
Além disso, o aniversário da filha se aproxima, e nenhum pai quer lidar com o sofrimento de não dar aquele sonhado presente, certo?
José refletira sobre tudo isso, enquanto caminhava para casa.
Quando levantou a cabeça, já era tarde para qualquer coisa.
Dois criminosos o abordaram, armados com facas em uma distância menor que um braço.
É o primeiro pensamento que veio à sua mente, enquanto José já agonizava no chão.
Afinal, o dinheiro arduamente conquistado e, agora tomado, não foi o suficiente.
Os marginais escalaram a violência, por pura maldade.
O que você faria diferente? Quantas vezes você já foi o José, nesse ambiente, com esse nível de atenção e em um horário similar?
E melhor ainda, o que você sentiu lendo esse exemplo hipotético? Raiva, tensão, ansiedade, revolta?
Na verdade, para todas essas perguntas o ponto comum é o poder da mente enquanto ferramenta de preparação psicológica para o combate.
Nesse sentido, vale a pena explorar dois conceitos: a empatia, e o condicionamento operante na mentalidade de combate.
Criminosos x Empatia
Os neurônios-espelhos foram descobertos por pesquisadores italianos da universidade de Parma, na Itália, em 2004.
Eles são ativados no córtex frontal inferior, e estão ligados à antecipação de comportamentos, linguagem, interpretação e replicação de comportamentos.
Desse modo, eles são os responsáveis pela empatia, e permitem que você sinta aquelas emoções de revolta, por exemplo, quando lê o exemplo de José.
Portanto, vale a pena citar que, em indivíduos psicopatas, por exemplo, não há um correto funcionamento dessa parte neurológica.
Alguns desses, podem perpetrar violências asociais, das quais não há outra saída, senão violência no mais alto nível.
Em suma, uma valiosa lição é: para criminosos, não há empatia, regras, ou moralidade.
A mentalidade de combate
Uma mente preocupada, é uma mente despreparada para o combate – facilmente pega de surpresa.
Nesse sentido, já lecionava o icônico tenente cel. Jeff Cooper, veterano fuzileiro naval dos EUA, e inventor do código de cores, além da técnica moderna de pistola.
Por outro lado, quando você internaliza na sua mentalidade que o mal (a criminalidade violenta) pode realmente chegar até você, você já está um passo à frente.
Nesses cenários, sua mente deve estar clara e focada:
”Eu imaginei que isso pudesse acontecer, e sei como reagir com sucesso”.
Essa deve ser a resposta de uma mente preparada para o combate.
Além disso, uma poderosa combinação na defesa pessoal é a mentalidade de combate, primada pela prevenção e mentalização, com o condicionamento operante.
Desenvolvido por Skinner no início do século XX, ele é uma ótima forma de criar respostas reflexivas e eficientes em cenários de defesa pessoal.
Esse método, oriundo da Psicologia Comportamental, parte do princípio de que tendemos a repetir comportamentos que são recompensados.
Desse modo, reforçam-se comportamentos desejados e punem-se (com desconforto) os indesejados.
Nesse sentido, você pode realizar treinamentos pautados em cenários realistas e prováveis, como um ataque por meio de estrangulamento, por exemplo.
Assim, um movimento correto de defesa pode ser recompensado com encorajamento verbal do colega de treino.
Por outro lado, um movimento errado pode ser punido com flexões de braço, por exemplo.
Com tudo isso em mente, aqui vão algumas considerações importantes sobre a mentalidade de combate:
- Não acredite na empatia dos seus agressores. Nem todos terão o mesmo arranjo neurológico, ou moral, que você;
- Treine cenários prováveis na sua realidade, criando respostas praticamente imediatas a eles por meio do condicionamento operante;
- Mentalize cenários: antes mesmo de treinar na prática, imagine cenários realistas e proponha comportamentos para si mesmo. Essa mentalidade pode antecipar movimentos e servir de modelagem para suas reações.
Treine com realismo
A prática constante é o que vai potencializar, junto ao seu preparo psicológico, uma defesa reflexiva e assertiva, certo?
Entretanto, não basta treinar de qualquer jeito, para qualquer hipótese.
Por isso, vale a pena ressaltar um levantamento realizado pelo FBI (equivalente à Polícia Federal dos EUA), sobre as mortes policiais em confrontos armados entre 2009 e 2018.
Da pesquisa, podemos extrair informações valiosas de modo praticamente universal, como:
- A maior parte dos disparos não atingirá o alvo: apenas 19,3% dos disparos dos policiais capazes de reagir atingiram o agressor. Além disso, mais de 70 policiais não conseguiram sacar suas armas a tempo de reagir, o que endossa treinamentos de saque;
- O combate acontecerá a curtas distâncias: 85% dos combates ocorreram a menos de 6m de distância;
- Será um confronto muito rápido: os confrontos armados não superam os três segundos;
- A melhor defesa é o ataque: em 80% dos confrontos, aquele que efetuou o primeiro disparo foi vitorioso.
Além disso, treinar para cenários realistas de defesa pessoal, significa simular ao máximo o estresse do combate.
Afinal, quando em combate, seu sistema simpático é estimulado e deposita uma alta carga de adrenalina na corrente sanguínea.
Desse modo, seu corpo prepara-se para fugir ou lutar.
É o resultado de milênios de evolução, herdada pela luta ancestral pela sobrevivência.
Alguns efeitos dessa reação natural do corpo são:
- Perda de sensibilidade nas extremidades do corpo (mãos, pés);
- Dificuldade de raciocínio;
- Aumento do fluxo respiratório;
- Enrijecimento dos braços e pernas.
Portanto, a ação assertiva em condições de combate é muito mais difícil do que seria em condições normais.
Em outras palavras, treine, e muito, para situações que consideram os dados reais apresentados, e simule cenários de alto estresse.
Somente assim será possível aumentar as suas chances de sucesso nos momentos mais críticos.
Consciência situacional: previna a violência criminosa
A consciência situacional (situational awareness) é um conceito nascido do código de cores, já citado, de autoria do grande nome do armamento e tiro, Jeff Cooper.
Segundo seus ensinamentos, o nível de atenção do ser humano pode ser dividido em 4:
Branco
Quando o seu estado de alerta está na cor branca, você não está atento ao seu redor, tampouco em prontidão para o combate da defesa pessoal.
Na verdade, você está relaxado e desatento.
Assim, é nesse estado que você está quando dorme ou está tomando banho, por exemplo.
Entretanto, se você é confrontado com a criminalidade violenta nesse estado, suas chances de sobrevivência são praticamente nulas.
Amarelo
O estado de alerta amarelo é no qual devemos estar a maior parte do tempo.
Nele, você está relaxado, mas alerta.
Nesse estado de consciência situacional, você sabe que pode haver potenciais perigos, mas não há ameaça específica ainda.
Desse modo, viver a maior parte do tempo na cor amarela do código de cores de Cooper pode exigir um esforço consciente, mas certamente desencoraja criminosos.
Afinal, essa postura atenta denota prontidão desde o primeiro momento (corpo ereto, olhos atentos, cabeça erguida).
Portanto, ao sair de casa, dirigir para o trabalho ou ir para a cidade, tenha certeza de estar em estado de alerta amarelo.
Laranja
Se você estava alerta para uma potencial ameaça (cor amarela), mas visualizou uma ameaça real e específica, você agora está na cor laranja.
Essa ameaça pode ser tanto dirigida a você, quanto para seu ente querido ou próximo.
Ou seja, nesse ponto você visualizou uma ameaça real e específica, mas ainda está decidindo sobre a ação.
Vermelho
No estado de alerta vermelho, a decisão está feita: você irá combater.
Entretanto, a definição do gatilho que irá delimitar a distância entre o estado de alerta laranja e vermelho é muito relevante.
Será quando ele tirar a faca do bolso? Quando ele desobedecer uma ordem de prisão (caso você seja policial)?
Reflita muito sobre isso e tenha as suas respostas.
Por fim, mantenha-se sempre com o nível de atenção no amarelo.
Além disso, esforce a sua consciência para sempre alternar entre as cores na medida em que você analisar o seu entorno.
Certamente, uma boa consciência situacional prevenirá a maior parte dos perigos à sua vida, e dos seus.
Opere no estágio de causa
Seja na liderança, na gestão do tempo ou no combate, de maneira geral, há somente 2 modos de trabalhar: de modo proativo (causa) ou reativo (efeito).
E, acredite, em um combate pela sua vida, na defesa pessoal ou de terceiros, você quer operar no estado de causa.
Você se lembra dos dados mencionados anteriormente sobre combates reais de policiais do FBI, quanto a efetuar o primeiro disparo?
Na verdade, seja qual for a arma utilizada na defesa, realizar o primeiro ataque, significa operar no estado de causa.
Isso é: tomar a iniciativa de infligir os danos necessários para sua defesa, antes que o agressor o faça, e ganhe a vantagem para si.
Afinal, como diria o grande boxeador Mike Tyson, ‘’todo mundo tem um plano até tomar o primeiro soco’’, não é?
Por isso, em uma situação de vida ou morte, não elabore estratégias mirabolantes, mas tome a iniciativa de infligir o dano debilitante primeiro.
Para tanto, vale a pena utilizar a mentalização a seu favor, imaginando repetidas vezes o ataque para cada cenário.
Não se veja como uma vítima!
Culturalmente, é fato que somos moldados para nos enxergarmos sempre como a vítima.
Sobretudo no Brasil, após anos de políticas voltadas ao controle social como o desarmamento e a propaganda pública que distorcia o conceito de violência, isso é endêmico.
Entretanto, aí vem a ‘’girada de chave’’.
Se você frequentemente imaginou você mesmo como incapaz de usar a ferramenta da violência para sua defesa pessoal enquanto lia o artigo, trago uma notícia: em uma luta pela sua vida, você já perdeu.
Portanto, entenda profundamente a violência como ferramenta que é, e lembre-se que sua segurança pessoal é sua responsabilidade, não do Estado.
Por fim, lembre-se da primeira dica: mentalize cenários e tudo o que envolve ser eficiente na sua defesa pessoal.
Isso se aplica desde movimentos efetivos em áreas sensíveis (olhos, garganta, genitais), aos barulhos e sons desagradáveis que serão ouvidos.
Analise casos reais
Nenhuma pessoa normal e decente sentirá alegria ao ver uma reação em legítima defesa que acabou mal, ou uma agressão injustificável que vitimou um inocente.
Sabemos plenamente disso.
Entretanto, uma valiosa lição do especialista em defesa pessoal, Tim Larkin é justamente essa: sempre analise taticamente o vencedor do confronto.
Ou seja, quem venceu não importa.
Portanto, quando analisar casos reais ou realizar estudos de caso, foque no vencedor do confronto e pergunte a si mesmo:
- Por que ele ganhou?
- Como ele usou a violência?
- Sua tática é replicável?
- O que estava a favor dele?
Assim, pensando taticamente (e não moralmente), você poderá incorporar valiosas informações no seu acervo de combate para defesa pessoal.
Bônus: conheça os riscos de reagir
Agora que você, guerreiro ou guerreira, está munido dessas dicas, é fundamental mencionar a responsabilidade que pesa no gatilho.
Afinal, a única hipótese justificável para utilizar a ferramenta da violência é quando a sua vida, ou dos seus, está em risco.
Em outras palavras, vale a pena considerar o que enuncia o Código Penal, no seu art. 25:
Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
Artigo 25, Código Penal brasileiro.
Nesse sentido, vale ainda ressaltar que, mesmo quando agindo de modo legítimo, sem excessos na legítima defesa (que são puníveis), você precisa considerar os possíveis efeitos colaterais da defesa.
Afinal, o criminoso não se importa com outras vidas inocentes em risco: ele não opera como eu e você.
Por outro lado, você responderá juridicamente por quaisquer vidas ceifadas por consequência da sua ação.
Além disso, considere a realidade do pós-combate e esteja certo de que você estará pronto para conviver com o fato.
O que você achou das dicas de hoje? Já as conhecia?
Conte-nos nos comentários e não esqueça de compartilhar o artigo com quem você quer que esteja em prontidão.
A primeira arma é a informação.
Obrigado por ler até aqui e continue nos acompanhando para estar um passo à frente, munido de conteúdos como esse!