A música de guerra existe, desde as Cruzadas à guerra do Afeganistão.
E desde os tempos mais remotos, a música influencia os combates, até mesmo determinando o sucesso nas missões.
Nesse sentido, de fato, música e guerra estão há mais tempo ligadas na humanidade do que costumamos pensar.
Mas, atualmente, como será que as forças militares ao redor do mundo usam a primeira arte?
Qual a importância dela no contexto dos confrontos armados?
Essas respostas e muito mais, você encontra no post de hoje. Leia até o final!
Música de Guerra: um panorama histórico
Entenda como a música de guerra influenciou os combates ao longo da história humana.
Idade média: hinos de combate.
No contexto das Cruzadas – investidas militares que protegiam peregrinos e Jerusalém dos ataques muçulmanos entre 1095 e 1291 – a lendária Ordem dos Cavaleiros Templários foi fundada.
Esses guerreiros frequentemente entoavam canções antes das batalhas, muito vinculadas à fé e à coragem no combate.
Nesse sentido se destaca sua criação. Isso porque, desde o início, foram inspirados e organizados por São Bernardo de Claraval.
Ele definiu virtudes a serem observadas rigorosamente pelos guerreiros no duplo combate: contra o mal físico e o espiritual.
Por fim, criou guerreiros nunca antes vistos na história militar.
Um de seus hinos mais famosos chama-se Da Pacem Domine (Dê paz, Deus), criado em meados do século VI ou VII. Sua escrita clama pela paz e força em meio à guerra que vivenciavam.
Nesse mesmo sentido, o estrategista militar Sun Tzu em sua obra ‘’A arte da guerra’’ já falava, 400 anos antes de Cristo, sobre a importância dos ‘’tambores e bateria’’ para formação da unidade e foco das tropas.
Operação Justa Causa: alto-falantes derrubam ditadura
É dia 20 de dezembro de 1989, 1h da madrugada, e o tempo não contribui para o avanço dos helicópteros.
Apesar disso, 27.000 militares invadem simultaneamente o Panamá, então dominado pela ditadura de Manuel Noriega.
O Governo era acusado pelo envolvimento com o tráfico de drogas, opressão armada aos cidadãos opositores, a prisão política de americanos em solo panamenho e fraude eleitoral.
Os militares norte-americanos cumprem a missão de derrubar a ditadura com uma das ações militares mais bem coordenadas e planejadas da história.
Assim, as tropas escaladas para a maior intervenção dos EUA na América Latina atingiram 20 objetivos dentro de um período de 24 horas – algo inédito na história militar.
Mas um objetivo ainda não foi alcançado – Noriega conseguiu se refugiar na embaixada do Vaticano.
Portanto, o exército não tem permissão internacional para adentrá-la.
A solução? Veículos de guerra circulam por todo o local e iniciam uma nova estratégia.
Foi assim que, dia e noite, tocava-se um repertório musical irônico, com estilos musicais detestados pelo ditador.
Músicas como ‘’Welcome to the jungle’’, dos Guns and Roses e ‘’Give it up’’, de K.C tocavam em alto e bom som por alto-falantes posicionados ao redor de todo o perímetro.
Enquanto isso, no rádio, pedidos do exército americano ordenavam a rendição do ditador.
Finalmente, após alguns dias Noriega se rende e é levado para Miami para cumprir quase 20 anos de cárcere em prisões norte-americanas.
Esse episódio prenunciou o potencial da música como arma psicológica em contextos de guerras.
Nesse sentido, tanto é verdade, que a experiência será levada em consideração nos conflitos mais modernos, como a seguir.
Guerra do Iraque: Ipods & Soldados
Com início em março de 2003, o conflito que combateu o domínio dos extremistas islâmicos no Afeganistão sempre foi complexo, criticado, polêmico e visava estabelecer um país livre no território.
O alto número de baixas militares e o uso de recursos públicos (foi o segundo conflito dos EUA mais caro aos cofres públicos), entre outros fatores, acabou por resultar no trágico fim, em 2021, da participação americana no conflito.
No entanto, o que se faz destacar nesse episódio é a nova forma de motivação para o combate proporcionada pelo avanço da tecnologia fonográfica, diferentemente de outros conflitos.
MP3, Ipods, Lap-tops e até os veículos dos combatentes americanos eram recheados de músicas de todo tipo: Rock e Rap eram frequentemente as mais ouvidas.
Como narra Jonathan Pieslak, em sua obra Sound Targets (American Soldiers and Music in the Iraq War):
‘’Quase todo soldado que entrevistei relatou que escutava música antes de deixar a base para ir às patrulhas ou mesmo dentro dos veículos, enquanto patrulhavam’’.
Ainda em sua obra, Jonathan colhe o rico relato de um combatente, cujo conteúdo confirma a relevância psicológica da música para a motivação:
Dessa forma, a música assumiu papel preponderante na motivação diária dos guerreiros envolvidos no conflito mais longo dos Estados Unidos, de uma maneira sem precedentes.
Além disso, relatos da utilização da música nos confrontos de forma a amedrontar o inimigo, como uma arma psicológica, também são registrados em sua obra.
Na guerra do Iraque, ela era utilizada de duas principais formas, enquanto tática psicológica: por meio de alto-falantes em áreas públicas e durante interrogatórios com prisioneiros de guerra.
A propriedade irritativa da música também era explorada.
Rebeldes escondidos poderiam ter de lidar com uma noite de sono interrompida por Hard Rock ou Hip Hop pesados.
Assim, suas capacidades reativas e sua atenção eram prejudicadas o suficiente para comprometer seus desempenhos em combate significativamente.
A consequência é clara: o êxito dos combatentes norte-americanos era substancialmente facilitado.
Música nas guerras: o aspecto jurídico.
E para além das propriedades terapêuticas da música, há indícios de sua propriedade irritativa na mente humana.
Embora estudos direcionados para esse aspecto não sejam atualmente acessíveis, exemplos reais podem indicar um fundo científico para a questão.
Na Guerra ao Terror, uma vez permitidos a usarem músicas para desestabilizarem prisioneiros de guerra em interrogatórios, os militares obtiveram experiências assustadoras.
Sargento Mark Hadsell, da Companhia de Operações Psicológicas (PsyOps).
‘’Se você tocar isso (Heavy metal) por 24 horas, seu cérebro e suas funções fisiológicas começam a colapsar, seus pensamentos iniciam a desacelerar e sua vontade é quebrada. É aí que nós entramos para conversar com eles (interrogados).’’
Esse trecho, cedido à revista norte-americana ‘’Newsweek’’ revela o teor do que são as operações psicológicas, direcionadas a quebrar qualquer resistência na busca por informações valiosas.
O tema inclusive ocupa espaço no direito internacional, figurado pela Convenção da ONU contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes.
Nela, o uso da música como tática de guerra encontraria definição em seu art 1º, tanto em duas formas:
- Inquisitiva ‘’[…] obter, dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões […]”
- Repressiva ou intimidadora ‘’[…] intimidar ou coagir esta pessoa […]’’.
Além disso, a prática é definida como crime de guerra no art. 8º do Estatuto de Roma e, no Brasil, a tortura é prevista na Constituição Federal como crime inafiançável e hediondo.
E você? O que acha desse aspecto jurídico e até moral? Certo, errado?
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Parabéns pelo belo texto.
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